tenho livros e papeis espalhados pelo chão. a poeira duma vida deve ter algum sentido: uma pista, um sinal de qualquer recordação, uma frase onde te encontre e me deixe comovido. guardo na palma da mão o calor dos objectos com as datas e locais, por que brincas, por que ri e depois o arrepio, a memória dos afectos há meia dúzia de coisinhas que eu tenho para te dizer podem ser fantasias minhas mas isto anda-me a bater eu já topei as tuas ancas e a sapiência do teu peito podem ser só as minhas pancas mas acabaram dando efeito e agora o que é que vais fazer? vou ficar aqui pendurado em ponto de rebuçado? a noite vinha fria negras sombras a rondavam era meia-noite e o meu amor tardava a nossa casa, a nossa vida foi de novo revirada à meia-noite o meu amor não estava ai, eu não sei aonde ele está se à nossa casa voltará foi esse o nosso compromisso e acaso nos tocar o azar o combinado é não esperar que o nosso amor é clandestino com o bebé, escondida, quis lá eu saber, esperei era meia-noite e o meu amor tardava e arranhada pelas silvas sei lá eu o que desejei: não voltar nunca... amantes, outra casa... e quando ele por fim chegou trazia flores que apanhou e um brinquedo pró menino e quando a guarda apontou fui eu quem o abraçou o nosso amor é clandestino. conta-me histórias de tempos a que eu gostaria de voltar tenho saudades de momentos que nunca mais vou encontrar a vida talvez sejam só 3 dias eu quero andar sempre devagar até a ti chegar sou a palavra amiga que gostas de ouvir a sombra esquecida que te viu partir a noite vadia que queres conhecer sou mais um dos homens que te nega e dá prazer. sim esta é a minha rua a minha sala, o meu quarto, o meu colchão em vez de janelas há estrelas e o tapete, o passeio, as pedras do chão, o candeeiro a luz da lua, o cobertor, caixas forradas de papel, em vez de vontade o cansaço em vez de um beijo, o vento rasga-me na pele, talvez um dia possa ser tudo o que meu sonho quiser e assim chegue ao pé de ti, talvez um dia possa ser talvez um dia eu possa querer acordar-me a mim. sim, esta é a minha vida dois braços baixos aí estendidos no chão entre o silêncio e a vertigem, sorriso gasto sem calor no coração, o sol não nasce apenas passa, o tempo cai sem nada desenhar no céu, arrasto pegadas na alma, olho pra trás e vejo não há nada meu..