23 setembro 2007

lost in translation

quando mudamos de país, seja por um curto período ou não tão curto assim, uma das coisas que nos custa mais a assimilar é a língua em que comunicamos.. mesmo o 'básico' inglês.. por uma razão muto simples: não é a nossa língua nativa!

podia falar de todos os outros factores que nos dificultam a adaptação, mas penso, assim como quem reflecte rapidamente, que a língua influencia todos os outros aspectos.. passo a explicar o meu raciocínio, se a comida não nos agrada e temos de ser nós a fazer pela vida, cozinhando desalmadamente como se fôssemos verdadeiros aprendizes de 'chef' (desejando intensamente ter prestado mais atenção aos programas de culinária em que não fixámos as receitas por estar a pensar como seriam bons os farnéis ali preparados..) deslocamo-nos ao supermercado mais próximo em busca dos ingredientes necessários para o belo do pitéu.. primeira barreira: os nomes dos ingredientes.. segunda barreira: a explicação técnica que nos ajudaria a explicar a utilização do tal ingrediente.. terceira barreira: bom, não me lembro de nenhuma mas as duas de cima já chegam para as dores de cabeça.. senão pensem lá, como se diz 'carne estufada' em inglês, ou experimentem dizer 'garlic' ao empregado holandês de nacionalidade turca, que não percebe puto de inglês.. não é tão fácil como parece.. dou apenas o exemplo da comida, é sem dúvida, para mim, o mais flagrante..

acreditem, o sentido de deslocação, de inadaptação instala-se facilmente, e uma coisa que me faz realmente confusão.. (é mais uma observação de reflexão rápida, logo não profunda e passível de erros de julgamento) é que nós portugueses temos uma tendência para o dramatismo, queixamo-nos por tudo e por nada.. no entanto, somos dos povos europeus que mais emigra e 'procura' lenha para se queimar, no sentido de que vamos encontrar culturas completamente distintas onde iremos certamente ter imenso para nos queixar.. e depois a língua deixa-nos desentupir o que nos vai cá dentro?

talvez, talvez sim, nem que seja em guturais palavrões soltados num português macarrónico em espaços frequentados por pessoas que não o entendam.. agora que penso nisto, ponho essa hipótese, nós emigramos para termos razões de queixa no dia-a-dia e para podermos atingir o objectivo de vida melhorada.. ok, assim sim.. mas o problema da tradução mantém-se!

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